No dia seguinte, todos os animais da
quinta estavam muito preocupados e sérios e tranquilos. Olhavam para o posto do
Rui e pensavam nele. Onde estaria agora? O que estaria a fazer?
- Eu acho, disse a Bea depois de ter
pensado muito ,que queriam levá-lo ao médico para o examinar.
- Mas ele estava bem, não precisava de médico,
disse a Célia.
- Talvez precisava de vacações, disse a
Beti.
- Os animais não têm vacações, disse a
Célia.
- Eu acho que estará numa outra quinta
ainda melhor do que a «Quinta Alegria», disse a Cornélia.
- Não sejas ridícula, disse a Quiqui, não
há nenhuma quinta melhor do que a nossa quinta!
- Pois, disse a Célia, todos estão
errados. Eu fiquei a saber que o Rui foi levado para uma outra quinta...
- Ei-lo, disse a Cornélia.
- ... mas não para estar melhor. Essa
quinta é uma quinta de suínos e levaram-no lá para depois o matarem.
- Que bobagem! Ninguém mata os animais
bons!
- Somente as raposas, disse a Quiqui.
- E os lobos, disse a Beatrice.
- E, talvez, os leões, disse a Mulata.
- Por favor, disse a Célia, ouçam-me! Não
é bobagem, é verdade, vão matar o Rui pela sua carne! Os homens comem carne de
suíno!
- Não!
- Sim! Disse-mo a minha professora, que
sabe tudo.
- Não será uma mentira, então?
- Não, infelizmente é a pura verdade.
- E os homens comem carne de vaca também?
perguntou a Mulata depois de pouco.
- Sim, e comem carne de ovelha também,
disse a Célia.
- Que barbaridade! disseram a Bea, a Beti
e a Berenice.
Os animais ficaram muito pensativos e
ninguém falou mais. A Célia estava muito cansada e retirou-se no seu cantinho.
Um pintainho aproximou-se dela.
- Eu também quero aprender a dançar
capoeira, disse-lhe.
Assim foi como os animais começaram a
aprender capoeira. Primeiro começaram os pintainhos, e depois começaram os
outros animais da quinta também. E foi muito difícil para eles também, difícil
como o tinha sido para a Célia, quando começou as aulas. E praticavam muitas
horas cada dia, porque sentiam que não tinham bastante tempo para se
prepararem.
Aliás, o Paulo informou-os que a dona
Elvira tinha muitos problemas financiais e pensava vender a quinta. Mas ninguém
sabia responder: Ia vender a quinta com os animais ou sem eles? Os animais
decidiram escapar.
- Temos de praticar mais, disseram.
E continuaram a praticar. E praticavam, e
praticavam...
- O que estão a fazer aqui? perguntou o
Paulo, um dia que os viu todos juntos, pés para cima, cabeças para baixo.
- Estamos a aprender capoeira.
- E para que a aprendem?
- Porque vamos escapar, disse um
pintainho.
- Eu não vos deixo, disse então o Paulo.
Vou avisar a dona Elvira.
- Tu és um animal como nós, não és um ser
humano, como a dona Elvira, tens de ajudar-nos então.
- Não vou ajudar ninguém. O meu trabalho é
guardar-vos e isto vou fazer. Deixem, então, os planos de escape. Já falei.
Os animais pensaram que o Paulo, que era o
espião oficial da dona Elvira na quinta, devia ser deixado às escuras, quanto ao
seu plano de escape, e decidiram não dizer-lhe nada mais sobre este assunto.
E os dias passavam...
Seria mentira dizer que os animais sabiam
exactamente quando iam escapar. A Mulata dizia que devia ser numa noite sem
lua, para não poderem ser vistos, a Célia dizia que devia haver lua, senão não
poderiam ver onde andavam.
- Devemos ter um chefe, disse a Bea.
- Por favor, minhas senhoras, disse o
Riqui, mas acho que o chefe da quinta sou eu.
- Sim, disseram as galinhas.
A Bea não disse nada mais, em fim era
somente uma ovelha.
- Ai, Dios mio, disse a Socoro, quando
deixei o meu país, nunca tinha imaginado que tibesse de ir-me embora outra bez.
- Eu acho que devíamos saber aonde vamos,
disse a Berenice, mas a verdade é que não fazemos a mínima ideia.
- Eu sei, disse a Célia. Perto da aldeia,
onde está a nossa quinta, há um bosque...
- Um bosque? disse a Beti. Mas no bosque
há lobos!
- A minha professora disse-me que neste
bosque só há raposas...
- Raposas? Dios mio! disse a Socoro. Eu,
entonces quero ficar na quinta!
- Pois é, disse a Quiqui. A verdade é que
não estamos mal aqui.
- Mas estaremos todos juntos, disse a
Célia, e vamos proteger uns aos outros. Aliás, agora sabemos capoeira.
- Boa consolação! disse a Coco. Pois eu
não gosto de ser comida por uma raposa!
- Achas melhor ser comida pela dona Elvira
ou por um outro ser humano, então? perguntou-lhe a Célia.
- Em fim, disse a Coco. Vou partir junto a
vocês.