E chegou uma noite com meia-lua, para
satisfazer aqueles que queriam escuridade absoluta e aqueles que queriam luz, e
os animais decidiram que a hora do escape tinha chegado. Mas não disseram nada,
e foram para dormir, como costumavam fazer todas as noites.
Esperaram até não ouvir nenhum som e
depois começaram. Esqueci-me dizer que a Célia tinha pedido para o Rodrigo
ajudá-los, e ele tinha chegado com a família toda e com alguns amigos. As ratas
roeram tudo o que podiam roer e a porta da casa encheu-se de buracos. Depois, a
Mulata, usando toda a sua força, empurrou-a e conseguiu rompê-la. O caminho estava
bem aberto.
- Por aqui, disse a Célia.
Os animais seguiram-na.
- O que estão a fazer aqui? ouviu-se de
repente a voz do Paulo.
Os animais ficaram imóveis.
- Não vos disse eu para não escaparem?
- Coragem, irmãos! disse o Rodrigo.
- Pois este é o ladrão?
- O Rodrigo não é ladrão! disse a Célia.
Quantas vezes devo dizê-lo?
- E eu quantas vezes devo dizer que não
vou permitir que saiam daqui?
- Nós queremos ser livres, disse a Mulata.
- Sim, disseram os outros animais também,
queremos ser livres!
- Pois é? Agora mesmo vou eu avisar a dona
Elvira e o Vitorino e vocês vão ver o que acontece quando não obedecem às
autoridades.
E começou a ladrar. Os animais então
começaram a correr.
- Venham cá! disse o Paulo. Onde vão?
Venham cá!
A dona Elvira estava no seu quarto. Estava
a ler um romance. Estava quase a terminá-lo. Mas não o terminou porque ouviu os
latidos do Paulo. Deixou de ler e levantou-se da sua cama.
- O que está a acontecer? pensou. Porque o
Paulo ladra assim? Vitorino!
O Vitorino estava a ouvir uma partida de
futebol na rádio.
- Vitorino! disse outra vez a dona Elvira.
- À sua disposição, patroa, disse o
Vitorino e saíu do seu quarto.
- Vamos à casa dos animais, o Paulo está a
ladrar como nunca tem ladrado. Algo acontece. Algo mau, suponho.
Os dois
foram para a casa dos animais. O Iguazú seguiu-os, porque a dona Elvira deixou
a porta aberta.
- Nossa! dizia o Iguazú.
Entretanto, os animais tinham chegado à
porta da quinta. Mas, lá havia um problema: a porta da quinta não era de
madeira, era de metal, e o Rodrigo e os seus não podiam ajudar. As galinhas e
os pintainhos conseguiram sair através dos buracos da porta, mas a Mulata, a
Bea, a Beti e a Berenice não podiam sair.
- O que vamos fazer agora? perguntou a
Bea.
- Talvez a Mulata possa partir a porta a
pontapés, disse a Célia.
A Mulata deu um pontapé à porta, mas não
conseguiu nada.
- Prova outra vez, disse a Célia.
- Não posso, disse a Mulata, dói-me o pé.
- Por favor, mais uma vez! disse-lhe a
Bea.
A Mulata provou mais uma vez. A porta
ficou onde estava.
- É impossível, disse a Mulata. Esta porta
é muito forte.
- E agora?
- Vamos voltar, disse a Bea. Vamos voltar
à nossa casa e ninguém vai saber nada.
- Eu não quero voltar, disse um pintainho.
- Podemos irmos embora nós, disse o Riqui,
e voltar uma outra noite com um plano melhor, para liberar os outros animais.
- Não, disse a Célia, estamos todos
juntos. Ou partimos juntos ou ficamos juntos.
- Dios mio, disse a Socoro, a dona Elbira
e o Bitorino estão aqui!
- Nossa! ouviu-se a voz do Iguazú.
A dona Elvira e o Vitorino nunca esperavam
ver o que viram. Nunca esperavam ver os animais escapar.
- Não posso acreditar nos meus olhos,
disse o Vitorino. Estes animais iam escapar!
A dona Elvira não sabia o que dizer.
- Nossa! disse o Iguazú.
Os animais estavam petrificados.
- E agora, o que fazemos? perguntou a
Berenice.
- Agora vai haver justiça, disse o Paulo.
- Nada está perdido ainda, disse a Célia.
Não se lembram? Nós sabemos capoeira!
Sim, era verdade. Eles sabiam capoeira.
- Vamos, então, disse a Célia. Vamos
dançar!
Se o Vitorino não podia acreditar nos seus
olhos quando viu que os animais estavam a escapar, agora ficou completamente
estupefacto.
- O que estão a fazer agora? perguntou.
- Não sei, disse a dona Elvira. Que
posturas tão estúpidas! Que movimentos tão raros! Estarão doentes?
- Nossa! disse o Iguazú. Capoeira!
- O quê? disse o Vitorino. Será que dançam
capoeira?
- Capoeira! disse outra vez o Iguazú. Coisa
boa!
- Agora que o vejo melhor, disse a dona
Elvira, parece ser um tipo de dança. Mas, capoeira não sei...
- Vem, Paulo, disse o Vitorino ao Paulo,
ajuda-me para levar estes animais loucos para a sua casa. Vamos, vamos!
Foi muito tarde quando o Vitorino
conseguiu levar todos os animais à casa. Depois, tive de reparar a porta
partida e isto levou-lhe mais três horas.
- Temos de comprar uma porta de metal para
a casa dos animais, disse à dona Elvira.
Sem comentários:
Enviar um comentário