quarta-feira, 4 de junho de 2014

10. Um acontecimento muito triste mesmo



- Socorro! Socorro! ouviu-se a voz do Rui, um dia, muito cedo.
- Sim! disse a Socoro, que pensou que a estava a chamar.
- Socorro! continuou o Rui.
Era muito cedo, mesmo, e a maioria dos animais estavam a dormir. Mas com os gritos do Rui, todos acordaram.
O que viram nunca o tinham esperado. Dois homens, que os animais nunca tinham visto, estavam a puxar o pobre Rui para fora da casa dos animais.
- Onde o levam? Deixem-no aqui! disseram os animais, mas os homens não perceberam.
- Ajudem-me, por favor! dizia o Rui.  
  Os animais mexeram para os dois homens. Então, um terceiro homem desconhecido entrou. O homem tinha um chicote.
- Fsssssst! ouviu-se o chicote e os animais deram dois passos para trás.
- Não deixem que me levem! disse o Rui.
Mas o terceiro homem tinha um chicote.
Os homens conseguiram levar o Rui fora da casa dos animais. A porta da casa foi fechada. Os gritos do Rui não pararam. Uma porta ouviu-se abrir, e pouco depois a porta ouviu-se fechar. A voz do Rui ouvia-se mais leve agora. Depois, ouviu-se um carro partir. Silêncio caíu fora da casa. Silêncio caíu dentro da casa também.
Os animais não sabiam o que pensar. A Célia também estava muito assustada. Porque tinham levado o Rui? Talvez porque não dava nada à dona Elvira, nem leite, nem lã, nem ouvos? Mas o Rui não lhe tinha dito que a dona Elvira amava os bons animais e que ele era um animal bom? Seria que tivesse feito alguma coisa má? Pensou que não seria boa ideia perguntar nenhum animal, porque nenhum animal saberia responder. Perguntaria a sua professora. Ela sim saberia responder.
A Isolda ouviu a notícia sem mostrar nenhum sinal de assombro.
- Porque é que o levaram? perguntou à Isolda.
- Bom, a menina talvez não tenha a idade para este tipo de conversa...
- Quero saber, disse a Célia.
- Neste caso, devo dizer que na vida acontecem coisas boas e coisas más. Já dissemos que os animais da quinta servem ao homem para lhe darem lã, leite, ouvos... Pois, não só. Os animais dão ao homem carne também.
- Que tipo de carne?
- Bom, o homem come várias coisas: come verduras, mas também come carne, e esta vem dos animais... é a sua carne que come.
- Quer dizer que um homem vai comer o Rui?
- Um homem só, não. Mas muitos, sim, eles vão comê-lo.
- Isto é terrível! disse a Célia. Mas, a dona Elvira é boa e ama os animais. Ela também come carne?
- Não vejo porque não.
- Não pode ser, disse a Célia.
- Sei que é uma coisa muito grande para poder ser percebida por um pintainho da sua idade, mas é a pura verdade, disse a Isolda.
- Não me sinto nada bem, disse então a Célia. Podemos terminar a aula aqui?
- Pois, normalmente não gosto do meu programa ser alterado, mas a menina é a minha aluna favorita. Por isto vou fazer uma excepção. Continuamos amanhã, então?
- Sim, amanhã, disse a Célia.
- Até amanhã, disse a Isolda e voou fora da casa dos animais.
A Célia não respondeu. Pobre Rui! Que sorte tão horrível para um animal que não fazia nada mal: só comia, dormia e tomava banhos.
- Estás sozinha? ouviu-se a voz do Rodrigo. A coruja partiu?
- Sim, disse ela.
- O que está a acontecer? Porque estás assim?
- Três homens levaram o Rui fora daqui, provavelmente para o comerem.
- Ah, sim, algo ouvi. O Rui o suíno, não?
A Célia acenou com a cabeça.
- Pois, alguém viu um camião onde estava este Rui, disse o Rodrigo. O camião pertencia a uma quinta de suínos que está perto da cidade.
- Então o levaram para estar com a sua família? perguntou a Célia, pronta para acreditar num milagre.
- Estás louca? disse o Rodrigo. A quinta produz carne! Levaram-no lá para matá-lo e vender a sua carne, como fazem com todos os suínos da quinta. Para um pintainho que estuda, não és nada inteligente.
A Célia não falou. A sua última esperança já tinha desaparecido. O Rui ia ser matado. Talvez já estava morto. Pobre Rui!
Naquela noite a lua tinha desaparecido também, igualmente como a última esperança da Célia...

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