quarta-feira, 7 de maio de 2014

2. Um pintainho com perguntas



A nossa história começou num dia da Primavera, com o sol bem alto no céu, com as plantas florescendo, com as abelhas voando de flor em flor e com os pássaros enchendo o ar de canções alegres. E começou aqui mesmo, na casa dos animais.
A Socoro, a espanhola galinha poedeira começou a gritar «co-co-có, co-co-cocó» repetidamente. Isto significava que tinham nacido os novos pintainhos. Todos, isto é, o Vitorino e a dona Elvira correram para a capoeira. Sim, era verdade. A capoeira estava cheia de pintainhos amarelos, alguns ainda molhados, outros secos, como cabeçinhas loiras de cabelo recentemente cortado. No chão havia também pedaços de cascas de ovos, porque para nascerem os pintainhos foi preciso partir os ovos.
Somente um ovo tinha permanecido imóvel. Era um ovo branco. «Equivoquei-me», disse a dona Elvira. «Este ovo é vazio. Devemos tirá-lo ao lixo». Mas naquele mesmo momento, como se tivesse ouvido, o ovo mexeu! Um bocadinho no inicio, e depois muito mais. E, de repente, eis um buraquinho na casca do ovo!
O buraquinho tornou-se buraco muito rapidamente, e apareceu a ponta de um bico. Depois, muitas linhas apareceram na superficie da casca, e, por fim, o ovo abriu em dois pedaços, revelando um pintainho molhado e muito cansado.
-                      Tsip, tsip, tsip! Disse o pintainho.
-                      Bem-vindo! disse-le a dona Elvira.
-                      Tsip! Tsip! respondeu o pintainho.
-                      Mianmar, por favor, sai daqui, querida, disse a dona Elvira à gata, que acabava de entrar e que estava a olhar para os pintainhos com o evidente propósito de provar um deles.
-                      Miau, disse Mianmar e saíu ofendida.
A dona Elvira e o Vitorino contaram os pintainhos. Onze. Onze pintainhos novos não eram nada mal. A dona Elvira ficou muito contente.
E naquele dia fez uma omelete com queijo.
Assim foi como começou a vida da Célia, da protagonista da nossa história. A Célia, então, começou como todos os pintainhos, amarela e muito fofinha.
Os outros animais, quer dizer, a Mulata – a vaca –, a Bea, a Beti e a Berenice – as ovelhas – e o Rui – o suíno – deram aos novos pintainhos as boas vindas, e retiraram-se cada um ao seu sítio. E os pintainhos ficaram quase sozinhos.
Foi então que a diferença entre a Célia e os outros pintainhos se tornou evidente por primeira vez. Enquanto que os outros pintainhos começaram a petiscar, a Célia ficou maravilhada pelo seu ambiente novo.
Quantos animais grandes e tão diferentes! E que lugar tão organizado! E como foi que saíu daquele lugar obscuro e apertado àquele luminoso e tão espaçoso? Havería mais lugares para conhecer?
- É muito rara esta Célia, disseram os outros pintainhos.
E decidiram não falar muito com ela.
Mas ela não se importou muito, já que estava absorvida pelos seus pensamentos. Porque não eram todos iguais? Porque não havia somente pintainhos neste mundo? Onde podia perguntar?
A Célia aproximou-se do Rui e perguntou-lhe:
- O que é que es tu?
- Eu sou um suíno, disse o Rui.
- E porque é que não es pintainho também?
- Não sei, disse o Rui e pensou: este pintainho é muito raro.
A Célia aproximou-se da Mulata.
- Como é que te chamas? perguntou.
- Mulata, disse a Mulata.
- E o que é que es?
- Eu sou vaca, disse a Mulata, que era vaca mesmo.
- E o que é que faz uma vaca?
- Come e dá leite.
- E porque é que não es pintainho?
- Não sei, disse a Mulata, e pensou: este pintainho não anda muito bem na cabeça.
A Célia aproximou-se das ovelhas.
- O que é que es tu? perguntou a Bea.
- Eu sou ovelha.
- E tu, que es? perguntou a Beti.
- Eu sou ovelha também.
- E tu? perguntou a Berenice.
- Eu também sou ovelha.
- Quantas ovelhas! maravilhou-se a Célia. E porque é que são ovelhas e não pintainhos?
- Não sei, disse a Bea.
- Não sei, disse a Beti.
- Não sei, disse a Berenice.
- Sabem, pelo menos, porque é que têm quatro patas e não duas?
- Não, disse a Bea.´
- Não, disse a Beti.
- Não, disse a Berenice.
- Hmmmm, disse a Célia. E, o que é que fazem as ovelhas?
- Comem e dão lã e leite.
- Lã e leite... repetiu a Célia.
- O que é que estás a fazer aqui, menina? perguntou o Riqui, o galo. Vai com as galinhas, vai!
E a Célia voltou onde estavam as outras galinhas. Mas não era nada satisfeita. Ninguém tinha respondido às suas perguntas. Onde podia encontrar as respostas?

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