A nossa história começou num dia da Primavera,
com o sol bem alto no céu, com as plantas florescendo, com as abelhas voando de
flor em flor e com os pássaros enchendo o ar de canções alegres. E começou aqui
mesmo, na casa dos animais.
A Socoro, a espanhola galinha poedeira
começou a gritar «co-co-có, co-co-cocó» repetidamente. Isto significava que
tinham nacido os novos pintainhos. Todos, isto é, o Vitorino e a dona Elvira
correram para a capoeira. Sim, era verdade. A capoeira estava cheia de
pintainhos amarelos, alguns ainda molhados, outros secos, como cabeçinhas
loiras de cabelo recentemente cortado. No chão havia também pedaços de cascas
de ovos, porque para nascerem os pintainhos foi preciso partir os ovos.
Somente um ovo tinha permanecido imóvel. Era
um ovo branco. «Equivoquei-me», disse a dona Elvira. «Este ovo é vazio. Devemos
tirá-lo ao lixo». Mas naquele mesmo momento, como se tivesse ouvido, o ovo
mexeu! Um bocadinho no inicio, e depois muito mais. E, de repente, eis um
buraquinho na casca do ovo!
O buraquinho tornou-se buraco muito rapidamente,
e apareceu a ponta de um bico. Depois, muitas linhas apareceram na superficie
da casca, e, por fim, o ovo abriu em dois pedaços, revelando um pintainho
molhado e muito cansado.
-
Tsip,
tsip, tsip! Disse o pintainho.
-
Bem-vindo!
disse-le a dona Elvira.
-
Tsip!
Tsip! respondeu o pintainho.
-
Mianmar,
por favor, sai daqui, querida, disse a dona Elvira à gata, que acabava de
entrar e que estava a olhar para os pintainhos com o evidente propósito de
provar um deles.
-
Miau,
disse Mianmar e saíu ofendida.
A dona Elvira e o Vitorino contaram os pintainhos. Onze. Onze pintainhos
novos não eram nada mal. A dona Elvira ficou muito contente.
E naquele dia fez uma omelete com queijo.
Assim foi como começou a vida da Célia, da protagonista da nossa história.
A Célia, então, começou como todos os pintainhos, amarela e muito fofinha.
Os outros animais, quer dizer, a Mulata – a vaca –, a Bea, a Beti e a
Berenice – as ovelhas – e o Rui – o suíno – deram aos novos pintainhos as boas
vindas, e retiraram-se cada um ao seu sítio. E os pintainhos ficaram quase
sozinhos.
Foi então que a diferença entre a Célia e os outros pintainhos se tornou
evidente por primeira vez. Enquanto que os outros pintainhos começaram a
petiscar, a Célia ficou maravilhada pelo seu ambiente novo.
Quantos animais grandes e tão diferentes! E que lugar tão organizado! E
como foi que saíu daquele lugar obscuro e apertado àquele luminoso e tão
espaçoso? Havería mais lugares para conhecer?
- É muito rara esta Célia, disseram os outros pintainhos.
E decidiram não falar muito com ela.
Mas ela não se importou muito, já que estava
absorvida pelos seus pensamentos. Porque não eram todos iguais? Porque não
havia somente pintainhos neste mundo? Onde podia perguntar?
A Célia aproximou-se do Rui e
perguntou-lhe:
- O que é que es tu?
- Eu sou um suíno, disse o Rui.
- E porque é que não es pintainho também?
- Não sei, disse o Rui e pensou: este
pintainho é muito raro.
A Célia aproximou-se da Mulata.
- Como é que te chamas? perguntou.
- Mulata, disse a Mulata.
- E o que é que es?
- Eu sou vaca, disse a Mulata, que era
vaca mesmo.
- E o que é que faz uma vaca?
- Come e dá leite.
- E porque é que não es pintainho?
- Não sei, disse a Mulata, e pensou: este
pintainho não anda muito bem na cabeça.
A Célia aproximou-se das ovelhas.
- O que é que es tu? perguntou a Bea.
- Eu sou ovelha.
- E tu, que es? perguntou a Beti.
- Eu sou ovelha também.
- E tu? perguntou a Berenice.
- Eu também sou ovelha.
- Quantas ovelhas! maravilhou-se a Célia.
E porque é que são ovelhas e não pintainhos?
- Não sei, disse a Bea.
- Não sei, disse a Beti.
- Não sei, disse a Berenice.
- Sabem, pelo menos, porque é que têm
quatro patas e não duas?
- Não, disse a Bea.´
- Não, disse a Beti.
- Não, disse a Berenice.
- Hmmmm, disse a Célia. E, o que é que
fazem as ovelhas?
- Comem e dão lã e leite.
- Lã e leite... repetiu a Célia.
- O que é que estás a fazer aqui, menina?
perguntou o Riqui, o galo. Vai com as galinhas, vai!
E a Célia voltou onde estavam as outras
galinhas. Mas não era nada satisfeita. Ninguém tinha respondido às suas
perguntas. Onde podia encontrar as respostas?
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