Assim foi como a Isolda a coruja começou a
dar aulas à Célia, que dava muito prazer à sua professora, porque estudava
sempre. Uma das primeiras coisas que ficou a saber foi que a lua não era um
queijo enorme.
- Que engraçado! riu a Isolda, que
normalmente era uma coruja séria. A lua é um queijo? Quem lho disse?
A Célia sentiu vergonha.
- O Rodrigo, o meu amigo, disse em voz baixa.
- Pois, este Rodrigo não sabe nada mesmo.
- Mas é como o Gruyére, começou a dizer a
Célia, o queijo com os buracos, não vê os buracos sobre a lua?
- Menina, atenção! Quem é o seu professor:
o Rodrigo ou eu?
A Célia baixou a cabecinha.
- Bom, já que sou eu a sua professora e eu
digo que a lua não é queijo, isto é a verdade. Fique a saber, então, que a lua
é um planeta, exactamente como a terra...
- Mas a terra não é queijo...
- Exactamente! A lua, então, é um planeta
como a terra, mas ninguém vive lá, porque não há ar para respirar.
- E os buracos?
- Os buracos são sinais de meteoritos que
alguma vez caíram sobre a lua.
- Que significa «meteoritos»?
- Os meteoritos são pedras enormes que
viajam pelo espaço.
A Célia ficou com o bico aberto. Quantas
coisas sabia a Isolda! Sempre tinha uma resposta pronta para dar. Era uma sábia
mesmo.
- Quando for grande, quero ser professora
também, disse um dia.
- Bom, isto não é uma profissão
tradicional das galinhas, disse a Isolda. Para nós, as corujas, é uma coisa
normal, mas para as galinhas é muito raro.
A Célia sentiu decepcionada.
- Mas, continuou a Isolda, se uma pessoa
trabalha muito e é boa, consegue o que quer.
- É verdade?
- Pois, claro! Os livros da história estão
cheios de histórias sobre pessoas comuns, que trabalharam muito e conseguiram tornar-se
grandes. Se você trabalha muito e continua a estudar como tem estudado até
agora, não vejo porque não pudesse ser uma professora de galinhas! Se a
galinhas querem aprender, claro...
- Então, há livros com histórias de
pessoas comuns? E de pintainhos como eu?
- De pintainhos como você não acho, disse
a Isolda. Mas há livros assim, sobre pessoas comuns. Infelizmente, somente os
homens têm livros. Os animais normalmente passam a história oralmente, «de boca
em boca», como se diz.
- Você viu alguma vez um livro?
- Eu pertenço a uma família de filósofos e
de professores: claro que tenho visto muitos livros na minha vida!
- Muitos? Onde?
- Numa biblioteca. As bibliotecas são
casas cheias de livros.
Outra vez a Célia ficou com o bico aberto.
Havia neste mundo casas cheias de livros, enquanto ela nunca tinha visto nem
sequer um. Se pudesse ver um livro seria muito feliz mesmo.
- Onde posso eu ver um livro?
- Não sei, mas talvez a dona – como se
chama...?
- Dona Elvira...
- Talvez a dona Elvira tenha livros. Quando
uma pessoa tem livros, chega um dia que decide abrir um de eles.
- E que acontece depois?
- Depende do livro. Se o livro é um livro
de história, por exemplo, a pessoa torna-se mais sábia. Se o livro é de
literatura, pode divertir-se e querer lê-lo outra vez.
- E que significa «literatura»?
- A literatura é um tipo de arte. É a arte
das palavras. Em outras palavras, todos os contos são literatura.
- Então, é literatura que a lua é um
queijo?
- É o clássico tipo de literatura.
- Imagina, pensou a Célia, se o Rodrigo o
soubesse! É um artista de literatura e ninguém o sabe. Todos pensam que é um
animal que não vale nada, mas ele é o único artista que eu conheço!
- Não pensa em ser artista quando for
grande? perguntou a Isolda. Isto seria uma catástrofe.
- Uma quê?
- Bom, a hora já passou, basta por hoje.
Continuamos amanhã. Vamos trabalhar sobre o seu vocabulário. E vou explicar-lhe
também o que é uma catástrofe. Ainda temos muito trabalho.
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